Charges - Capitanias Hereditárias

As charges são desenhos que buscam satirizar certos acontecimentos. São, de certa maneira, uma forma muito apreciada de interpretação, pois é necessário saber em que contexto se encontram os indivíduos ou práticas satirizados.

Por exemplo, a charge abaixo, de César Lobo e Carlos Eduardo Novaes, fala das capitanias hereditárias.


A tentativa de um modelo de administração colonial que previa a doação de terras a nobres portugueses que não ocupassem um cargo na corte ou na Índia. Se tornaram esses nobres os "senhores" da terra, a quem o rei presenteava, mas incumbia de desbravar as matas e ali plantar um enclave do modo de vida luso, uma sociedade que pudesse ser boa para todas as partes, mesmo é claro para os desapropriados. O estado português,  preocupados em defender seus postos de comércio, que já nessa época incluía pessoas, na Índia e na China, "alugando" o Brasil. O estado só ficava patrulhando a costa e fiscalizando se essas tentativas de colonização corriam bem...

Pois não corriam. A grande maioria dos nobres ungidos pelo rei percebeu que o investimento era de risco, a grande maioria não queria apostar sua vida em uma Euorpa cada vez mais efervescente pelo comércio.Apenas em São Vicente (Martim Afonso de Souza) e Pernambuco (Duarte Coelho) a colonização prosperou. Com isso, o governo passou a ficar receoso de que o Brasil não pudesse ser explorado e mantido pelos portugueses, ou pior, que outras nações quisessem explorar também.


E é ai que o estado põe o peso de sua máquina sobre a terra, passando a reger (literalmente) a forma com que se desenvolveria esses núcleos europeus no Brasil. Ao lado do Estado, aqueles que haviam participado da divisão das terras com os capitães, ou sesmeiros. A maioria deles montou engenho nessas terras, sobretudo lá em Pernambuco, foco mais precoce de colonização. A terra fértil, ensolarada e próxima da Europa passou a ser também produtiva, dando inclusive a cana-de-açúcar que os Portugueses haviam trazido da África.

Esses são os dois pilares da sociedade portuguesa no Brasil no Século XVI: O Estado regente, garantindo as regras gerais, e os senhores responsáveis pela ordem a nível local. Abaixo deles, alguns que se agrupariam em atividades necessárias tanto nas fazendas quanto nas nascentes cidades. Profissionais livres, de escrivães e juízes a sapateiros e tropeiros, também faziam parte da pirâmide, apesar de o topo desvalorizar o trabalho. Foram os primeiros brasileiros, as primeiras gerações do contato entre europeus, nativos e, logo em seguida, dos africanos, as engrenagens vivas da sociedade.


Excetuando uma relação anacrônica de causa e consequência, em relação à posse da terra e da divisão por atividades, que paralelos podemos fazer com o modelo atual?

Até a próxima.


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