O que estudar em História - Parte 2
Continuado com o parêntese aberto....
O que vai cair normalmente não é muito específico, mas algum fato sobre o qual se possa abrir um conceito. É possível que algum elaborador queira lembrar-se do Pacto de Santo Idelfonso e como ele dividiu a colônia, mas é uma situação sobre a qual não se vai muito longe em sua contextualização (coisa que Unicamp e Enem adoram). É o tipo de coisa que essas provas te contam em um texto, pra que depois você encaixe esse texto em algum conceito ou o associe a algum outro fato.
Portanto, tentem imaginar os eventos históricas como um conjunto diverso de formas de expressão humana que não se pode reproduzir no espaço como se faz em um laboratório. A memória desses eventos por si só já é uma construção e apropriação histórica, dependendo do ponto de vista de quem o escreve e das fontes disponíveis.
Interpretar os fatos por trás dessas brumas, por mais que isso parecer absurdo, é mais ou menos o que os historiadores tentam fazer a vida inteira. É claro que para alguns terá mais peso na prova do que outros, mas alguma dose do tal senso crítico que as ciências prezam pode-se encontrar também por aqui, e ajudar a olhar um pouco por trás de cortinas.
Estou tentando me aproximar de uma metodologia que não fique jogando datas e nomes sobre vocês, mas sim tentar desenhar alguns panoramas e construções sociais que sejam importantes para entender a nossa complexa história. Espero com isso que vocês consigam desempenhar melhor nas questões escritas, onde esse raciocínio é mais valorizado, sem perder, claro, a linha dos fatos.
Em qualquer momento que isso não estiver atendendo aos anseios de vocês, por favor me avisem! Escrevam comentários no blog ou me chamem na rede. Nada enriquece mais o meu aprendizado como professor do que trocar algumas ideias com vocês, espero poder proporcionar o mesmo.
Agora, de volta à Terra, os períodos:
Colonização da América
É um ponto muito sensível, pois envolve todo um aspecto de identidade da nossa sociedade como sendo produto de uma exploração comercial sobre uma terra abundante, onde se buscou cultivar gêneros à exaustão, um por vez, com o detalhe de um elemento inserido à base da força. Além disso, as fontes que temos dessa época contam a história sob a ótica dos conquistadores, os portugueses, que tiveram menos gosto por registrar as características daquele território como os outros europeus que vieram.
Com isso, é muito provável que os textos das provas sejam relatos de época sobre as atividades comerciais da colônia (o que era necessário registrar) feitas por europeus. No período que estamos estudando, no entanto, é que os primeiros relatos de dentro surgem, como parte da aculturação da sociedade brasileira nascente. E o que virá na prova é a visão que autores do nosso século, buscando as origens de seu existir, tinham baseados nos que os padres, poetas e burocratas viram e lhes contaram.
Embora algumas coisas causem controvérsia, fatos como escravidões e genocídios são improváveis de se ocultar. Apesar de muitas vezes se encomende a revisão histórica para maquiar problemas sociais, a realidade, sobretudo das nossas instituições, com base em seus modelos, não nos deixa esquecer. Isso é claramente ligado a como nos formamos como sociedade moderna, e a origem é essa. O resto, estou tendo a chance de divagar sobre com vocês, então é o que temos. Como é a maior parte da nossa história, provavelmente será a maior parte também da prova.
Revolução Francesa
Esse é um tema recorrente, dividimos até a Era em que nos encontramos na história a partir desse evento. (Me pergunto qual será, ou foi, o próximo a fazê-lo)
E por que ele é tão importante? Pois é um levante que foi capaz de mudar drasticamente a ordem dos governos que controlavam basicamente toda a economia e sociedade ocidentais e boa parte também no oriente. E que até então clamavam por poder divino e hereditário.
Eis que a ordem se inverte, em busca de uma maior representatividade popular, expressa na figura dos jacobinos. Influencia eventos semelhantes no mundo inteiro (como a Inconfidência Mineira) sob a égide de valores universais e da igualdade.
Desde, claro, que haja alguém capaz de garantir e simbolizar esses ideiais, como Napoleão, imperador e mito, se propôs a fazer e disseminar depois de tantas cabeças cortadas.
Lembrem-se da mudança de era. Falando em liberdade, recomeçamos em sangue. Como os símbolos e valores desse acontecimento foram revisitados e, em muitos casos, dissipados?
Vale a pena comparar também com o processo de independência dos EUA, substancialmente mais pacífico (embora tenha havido uma Guerra) e menos pretensamente igualitário, pelo menos na prática.
Leitura recomendada: Eric Hobsbawm - A Era das Revoluções: 1879-1848.
Imperialismo
É necessário entender o porque os impérios europeus formados no período anterior (Era das Revoluções) se lançaram novamente de forma voraz sobre África e Ásia, repetindo naqueles continentes o modelo exploratório que haviam implementado na América. (Até então os dois continentes eram mais alvo de comércio do que dominação).
Claro, da mesma forma que no Iraque não era pelo petróleo, não era necessariamente pelas riquezas que os europeus deixavam a sua casa para fincar os pés nesses países. A "missão" tomou uma dimensão civilizatória, justificada pelo racismo e pela superioridade europeia, cujo objetivo era inserir os povos conquistados na lógica europeia de sociedade: Claro, a partir de baixo.
A Conferência de Berlim e a famosa metáfora da partilha do bolo são os principais expoentes desse movimento, onde se destacava o Império Inglês, que colocava 1/4 do planeta sob a tutela da rainha. No entanto, muitas foram as reações e conflitos que esse movimento gerou, como guerras na Índia e na China e o estímulo à guerra entre tribos na África, desestabilizando os territórios demarcados por Europa.
Que lugar esses países assumiram, após a independência, na dinâmica do capitalismo global? Na maior parte dos casos, a fonte de recursos delimitada nesse período, com uma forma de poder exercido sobre eles agora muito mais econômico do que político.
Leitura recomendada: Eric Hobsbawm - A Era dos Impérios: 1848-1914.
Império Brasileiro
Por mais que possa ser estranho interpretar uma ruptura com Portugal com adoção de regime monárquico sob a mesma casa portuguesa, os Bragança, ela não está muito distante do sentido de ruptura política, mas não ideológica com a Europa. Os ideias que permeavam as classes sociais de elite que comandaram esse movimento não abrangeram, por exemplo, a
uniformidade social e econômica da colônia, apenas a política. Com isso, muitos movimentos de contestação surgiram.
Com menos de uma década já tivemos a abdicação de Pedro I, que retorna a Portugal, e um conturbadíssimo período de regência e tentativa de unidade da coroa brasileira esperando a maioridade - antecipada - de Pedro II. Essa era a principal preocupação imperial no momento.
O Segundo Reinado é, por sua vez, um assunto muito mais abordado, pois compreende um período muito maior e de consolidação do regime até o enfrentamento com suas próprias contradições, que levaram à mudança para a república. Dom Pedro II não era necessariamente um reformista, mas não se pode dizer que fosse ignorante às causas nacionais, como a educação e a industrialização, tendo sido letrado e respeitado. Porém, ele mesmo sabia que o regime a que fazia parte não sobreviveria às questões de sua fase final e aos próprios anseios do povo - não tão bestializado como se imagina.
Fica um questionamento: Por que Pedro II é sempre mais velho do que seu pai, nas imagens?
Existe um livro muito bom sobre essa figura, que é As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz. Se tiverem preguiça de lê-lo, pelo menos observem algumas imagens ou discussões sobre ele no YouTube. Também há uma versão em quadrinhos muito prazerosa de se ler.

Portanto, tentem imaginar os eventos históricas como um conjunto diverso de formas de expressão humana que não se pode reproduzir no espaço como se faz em um laboratório. A memória desses eventos por si só já é uma construção e apropriação histórica, dependendo do ponto de vista de quem o escreve e das fontes disponíveis.
Interpretar os fatos por trás dessas brumas, por mais que isso parecer absurdo, é mais ou menos o que os historiadores tentam fazer a vida inteira. É claro que para alguns terá mais peso na prova do que outros, mas alguma dose do tal senso crítico que as ciências prezam pode-se encontrar também por aqui, e ajudar a olhar um pouco por trás de cortinas.
Estou tentando me aproximar de uma metodologia que não fique jogando datas e nomes sobre vocês, mas sim tentar desenhar alguns panoramas e construções sociais que sejam importantes para entender a nossa complexa história. Espero com isso que vocês consigam desempenhar melhor nas questões escritas, onde esse raciocínio é mais valorizado, sem perder, claro, a linha dos fatos.
Em qualquer momento que isso não estiver atendendo aos anseios de vocês, por favor me avisem! Escrevam comentários no blog ou me chamem na rede. Nada enriquece mais o meu aprendizado como professor do que trocar algumas ideias com vocês, espero poder proporcionar o mesmo.
Agora, de volta à Terra, os períodos:
Colonização da América
É um ponto muito sensível, pois envolve todo um aspecto de identidade da nossa sociedade como sendo produto de uma exploração comercial sobre uma terra abundante, onde se buscou cultivar gêneros à exaustão, um por vez, com o detalhe de um elemento inserido à base da força. Além disso, as fontes que temos dessa época contam a história sob a ótica dos conquistadores, os portugueses, que tiveram menos gosto por registrar as características daquele território como os outros europeus que vieram.
Chegou o Rei! |
Embora algumas coisas causem controvérsia, fatos como escravidões e genocídios são improváveis de se ocultar. Apesar de muitas vezes se encomende a revisão histórica para maquiar problemas sociais, a realidade, sobretudo das nossas instituições, com base em seus modelos, não nos deixa esquecer. Isso é claramente ligado a como nos formamos como sociedade moderna, e a origem é essa. O resto, estou tendo a chance de divagar sobre com vocês, então é o que temos. Como é a maior parte da nossa história, provavelmente será a maior parte também da prova.
Revolução Francesa
Esse é um tema recorrente, dividimos até a Era em que nos encontramos na história a partir desse evento. (Me pergunto qual será, ou foi, o próximo a fazê-lo)
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Cortando a cabeça do Rei, pra depois coroar-se o imperador. |
Eis que a ordem se inverte, em busca de uma maior representatividade popular, expressa na figura dos jacobinos. Influencia eventos semelhantes no mundo inteiro (como a Inconfidência Mineira) sob a égide de valores universais e da igualdade.
Desde, claro, que haja alguém capaz de garantir e simbolizar esses ideiais, como Napoleão, imperador e mito, se propôs a fazer e disseminar depois de tantas cabeças cortadas.
Lembrem-se da mudança de era. Falando em liberdade, recomeçamos em sangue. Como os símbolos e valores desse acontecimento foram revisitados e, em muitos casos, dissipados?
Vale a pena comparar também com o processo de independência dos EUA, substancialmente mais pacífico (embora tenha havido uma Guerra) e menos pretensamente igualitário, pelo menos na prática.
Leitura recomendada: Eric Hobsbawm - A Era das Revoluções: 1879-1848.
Imperialismo
É necessário entender o porque os impérios europeus formados no período anterior (Era das Revoluções) se lançaram novamente de forma voraz sobre África e Ásia, repetindo naqueles continentes o modelo exploratório que haviam implementado na América. (Até então os dois continentes eram mais alvo de comércio do que dominação).
Claro, da mesma forma que no Iraque não era pelo petróleo, não era necessariamente pelas riquezas que os europeus deixavam a sua casa para fincar os pés nesses países. A "missão" tomou uma dimensão civilizatória, justificada pelo racismo e pela superioridade europeia, cujo objetivo era inserir os povos conquistados na lógica europeia de sociedade: Claro, a partir de baixo.
A Conferência de Berlim e a famosa metáfora da partilha do bolo são os principais expoentes desse movimento, onde se destacava o Império Inglês, que colocava 1/4 do planeta sob a tutela da rainha. No entanto, muitas foram as reações e conflitos que esse movimento gerou, como guerras na Índia e na China e o estímulo à guerra entre tribos na África, desestabilizando os territórios demarcados por Europa.
Que lugar esses países assumiram, após a independência, na dinâmica do capitalismo global? Na maior parte dos casos, a fonte de recursos delimitada nesse período, com uma forma de poder exercido sobre eles agora muito mais econômico do que político.
Leitura recomendada: Eric Hobsbawm - A Era dos Impérios: 1848-1914.
Império Brasileiro
Por mais que possa ser estranho interpretar uma ruptura com Portugal com adoção de regime monárquico sob a mesma casa portuguesa, os Bragança, ela não está muito distante do sentido de ruptura política, mas não ideológica com a Europa. Os ideias que permeavam as classes sociais de elite que comandaram esse movimento não abrangeram, por exemplo, a
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Os Bragança |
O Segundo Reinado é, por sua vez, um assunto muito mais abordado, pois compreende um período muito maior e de consolidação do regime até o enfrentamento com suas próprias contradições, que levaram à mudança para a república. Dom Pedro II não era necessariamente um reformista, mas não se pode dizer que fosse ignorante às causas nacionais, como a educação e a industrialização, tendo sido letrado e respeitado. Porém, ele mesmo sabia que o regime a que fazia parte não sobreviveria às questões de sua fase final e aos próprios anseios do povo - não tão bestializado como se imagina.
Fica um questionamento: Por que Pedro II é sempre mais velho do que seu pai, nas imagens?
Existe um livro muito bom sobre essa figura, que é As Barbas do Imperador, de Lilia Moritz Schwarcz. Se tiverem preguiça de lê-lo, pelo menos observem algumas imagens ou discussões sobre ele no YouTube. Também há uma versão em quadrinhos muito prazerosa de se ler.
Por enquanto é isso.
Abraço e bom feriado!
Abraço e bom feriado!
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